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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Deus, oh! Deus, onde estás que não respondes!

Em “Navio Negreiro”, foi assim que o poeta baiano Castro Alves escreveu seu primeiro verso, horrorizado com a forma desumana com que os escravos eram tratados pelos seus senhores brasileiros. Talvez a intenção do bardo não fosse proferir uma heresia, mas muito mais dirigir-se às autoridades nacionais, tentando sensibilizá-las na busca da abolição, que só viria dezenas de anos mais tarde. O poeta, falecido aos vinte e quatro anos, não viveu para ver o êxito de seu desiderato.

Com certeza, se vivo fosse, Antônio de Castro Alves, sob qualquer título, repetiria o antológico verso, ao se referir aos horrores da violência de que hoje é vítima a população brasileira.

Tornamo-nos escravos da violência. Vivemos algemados por leis brandas para os bandidos e cruéis para o cidadão. Se em casa vivemos receosos de sermos assaltados ou seqüestrados, saímos à rua temerosos de que o primeiro passo fora de casa seja um alçapão. Só nos resta entrega-los a Deus[se Existir] e rezar. Já não temos esperança, que foi substituída pelo medo, pela mágoa e pela revolta. Tudo foi banalizado: a vida, a morte, a dor.


Enquanto as autoridades brincam de governar, não oferecem sequer um plano mínimo de segurança à Nação, enquanto escancaram seus sorrisos de ironia, através da mídia, omitindo-se sequer de prometer que farão alguma coisa. Dão a impressão de que acham que não têm nada mesmo a ver com isso. Nos últimos vinte anos morreram mais pessoas assassinadas, no Brasil, do que em todas as guerras do mundo, no mesmo período. Tornamo-nos um país surrealista.


Se não fosse a violência, o Brasil seria o paraíso na Terra. Não temos guerras com outras nações, nem catástrofes naturais. Mas nosso abandono é tão perverso que somos vítimas de uma guerra interna, e nossas catástrofes ambientais são promovidas pelo próprio homem. Pior é que nas guerras com outras nações, as maiores vítimas são sempre os homens armados. Na nossa guerra interna, as maiores vítimas são civis desarmados, indefesos diante da ineficiência do Estado.


As sociedades mais avançadas do planeta só evoluíram após passar pelas tragédias de grandes guerras, ultrapassar grandes sofrimentos coletivos. No Brasil, nossos governantes sempre deram um jeitinho de driblar os confrontos e sair pela tangente, sem traumas, quando das grandes perturbações sociais. Mas, ao mesmo tempo, foram abandonando o povo à própria sorte, fazendo de conta que governavam o país, para ver no que é que dava. E deu nisso aí. Também por conta da passividade de nossa gente, que sempre deixou por conta de quem deveria governar, foi-se formando um desgoverno paralelo, onde o cidadão é sempre a vítima. E já que vão deixando como está para ver no que é que dá, será que eles estão esperando que a dor de milhões de corações partidos pela perda dos parentes já não suportem mais? Estão esperando pela insubordinação civil? Que formem esquadrões de caça coletiva aos bandidos que têm endereço certo e vivem só esperando a hora de dar o bote? A dor está aumentando e se alastrando. É bom que os governantes não esperem para ver no que é vai que dar.

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